segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

ROLLING STONES.



Sempre me afastei do ‘fator humano’, preferia observar o inorgânico porque as pessoas me assustavam. Adorava observar o meio ambiente ou as obras do homem, mas este era o que menos me atraia. Então tudo mudou, não sei se foi a doença ou algo decorrente desta, contudo mudou.

O ‘fator humano’ se tornou prioridade, não porque precisava me relacionar com ele, mas passei a admirar as pequenas e maravilhosas facetas do ser humano. Nem preciso trabalhar fazendo análises ou julgamentos.

Outro dia estava assistindo ‘O mundo visto de cima’ e me vi prestando mais atenção na ação do que na paisagem. Pessoas que caminhavam na ‘piazza del erbe’ em Verona e me peguei pensando... que estariam fazendo estas pessoas, caminhando para onde? Que está acontecendo em suas vidas neste dia que nem perceberam que foram filmadas? Ou o que estria pensando todas aquelas pessoas que moram em alguma villa espanhola? O que estava acontecendo comigo?

O que estariam sentindo as milhares de pessoas na quele momento? Haviam crianças nas escolas, pessoas acordando, falando ao telefone, assistindo televisão, limpando a casa, no banheiro, matando, salvando vidas, fazendo aniversário, indo ao cemitério...

Uma das crianças estaria nervosa, triste, sofrendo.

Eu me senti maravilhado por me conectar sinceramente com elas. A natureza humana é o mais lindo, fantástico e extraordinário caos. Um caos que, sem julgamentos e controles, só pode ser perfeito. Os desajustes não passam de ilusões. Queremos que as coisas sejam ‘certas’ de acordo com nossas verdades limitadas, porém os ‘problemas’ também são parte da solução.

Eu disse antes: A doença é uma forma de cura. E eu estou certo exatamente porque sem a doença nós continuaríamos tumultuando as vidas, não só as nossas. Estava lendo um artigo que comparava as ações coletivas humanas como células de um organismo global – nosso planeta. E se referia aos sistemas desarmônicos, ou seja, a violência, as guerras, o terrorismo, a ditadura, etc. como cânceres no corpo planetário. E neste processo de cura, lutamos contra usando as armas coletivas e éticas e morais que possam eliminar o câncer.

Voltando aos meus sentimentos. Nesta última semana estive internado para a realização de uma cirurgia. ‘Cirurgia Espiritual’. Na janela do quarto era possível ver um garoto, de uns 10 anos, sentado na brita do jardim.

Usava um capacete azul e nas mãos um pano. Passou o dia inteiro enfiando os braços nas pedras e depois de encher o pano – como uma escavadeira –, levantava os brações e deixava deslizar os pedriscos sobre a cabeça arqueada. Ficou quatro dias fazendo os mesmos barulhos que lembrava alguém usando uma pá. De vez em quando fazia um gritinho baixo como se estivesse contente com o resultado. Passei algum tempo observando.

A questão era que eu sabia que ele tinha alguma deficiência mental – como eu, posso dizer, também. Observei a sua indiferença ao mundo que, mesmo assim, o amava. Existia uma cumplicidade e eu vi que o amavam. Percebi que eu não sentia nem dó, nem compaixão, nem me identificava com o sofrimento dele ou dos pais, mas mesmo assim eu compreendi o que significa ‘amor’. È uma conexão tão profunda que as únicas palavras que encontrei para tentar explicar são: ele é eu, eles são eu. Porque não amar o ‘eu’ que está em todos?

Parece difícil e é.

Em vez de me identificar com o ‘possível sofrimento dele, senti uma alegria gigantesca e nem sabia explicar porquê. Ele estava realmente feliz dentro do personagem que escolheu, dentro das possibilidades que elegeu, com as pessoas que concordaram em participar. Elas podem até discordar, entretanto existem mais coisas entre o céu e a terra do que imagina a nossa vã filosofia. Toda ação – ou escolha – individual nunca é. Somos uma comunidade que age conforme as lições surgem. ‘Seu potencial é ilimitado em tudo que escolheu fazer. Não presuma que a alma que encarnou em um corpo que você chama de limitado não realizou todo o seu potencial, porque não sabe o que essa alma estava tentando fazer’. Neale Donald Walsch.

Deixem as pedras rolarem.

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