sexta-feira, 22 de março de 2013

037 - o que é ego

Enfim, o que eu deveria dizer sobre o ego não parece ser mais necessário. 


Mesmo depois de todas as explicações que tanto são conjecturas ou sugestões ou falsas convicções, fico com a sensação de que não adianta me expressar. Decerto não me refiro aos conteúdos expostos pelas religiões ou pela ciência que preenchem exaustivamente os requisitos quanto à pergunta: O que é ego segundo...? Descobri que o ego se amolda – quero dizer, a ideia do que pensamos ser o ego –, às nossas necessidades e não existe um protocolo para o seu uso. Alguns sustentam o fim do ego, enquanto outros, a sustentabilidade do ego nos processos psicológicos para se evitar neuroses ou/e psicoses.

E por que há tanta celeuma numa questão que se torna impassível diante do que expressamos? Se fazemos uso ou não do ego, já que ele nos proporciona meios hábeis de se alcançar metas? Quais metas?! As que buscamos e mais necessitamos sem a intervenção do ego...

Nós temos a característica humana de ver tudo por um único prisma e separar o que nos causaria sofrimento. Mas o que é descartado é parte de quem somos. Se somos felizes é porque reconhecemos a infelicidade, e quanto maior for a percepção – talvez seja melhor dizer, a experiência -  de um, maior será a ideia do oposto. Podemos negar a infelicidade em nossas vidas, mas não o fato de que ela existe em nós. O mal existe tão somente porque reconhecemos o mal. O mesmo se processa quanto ao ego, uma parcela de existência contra a sua negação. Negar o ego é negar a essência do que somos e aceitar o ego é negar a essência do que somos. Como assim?

O real objetivo é controlar o ego ao ponto de ele se tornar aquilo que desejamos. Se os nossos desejos forem pela simplificação do ego, ele parecerá nulo; o ego que conhecemos não passa de máscaras ou personalidades prontas para contra-atacar. Este ego reage conforme as suas crenças. E estas crenças foram criadas e perpetuadas sem que fossem raciocinadas, como o medo, que é uma reação aos imprevisível. Pois passamos a acreditar que o imprevisível é um dos alicerces do conceito que dirige o ego. Mas, e se a imprevisibilidade não passasse de uma ideia errônea? Então não haveria o medo. E sem medo, todas as nossas reações deturpadas não passariam de conjecturas.

E como se sustenta uma mudança no conceito de ego? Busca-se a premissa certa, de que Deus é perfeição. Não pensemos em negar a religião através da ciência e muito menos o contrário. Elas são partes separadas de uma mesma ideia e que se expandiram com tantas conjecturas sobrepostas que perderam a identidade. Existem provas do quanto os dois caminhos estão errados em continuar avançando sem olhar um para o outro. A medicina tenta criar respostas para as lacunas que a religião preencheria e vice-versa.

Individualmente elas podem parecer magnânimas, porém são como ramos. O ego é assim, por um momento ele se apropria de todos os modelos que precisa para promover o bem-estar do homem, ele o protege através da ideia de que precisamos dele para sobreviver. O ego nos comanda porque nos parece lógico que ele seja assim. Então o ego passa a sofrer falhas quando é exposto a situações que fogem aos modelos. Neste momento passamos a questionar a sua liderança. Doenças crônicas, incuráveis, fatais, acidentes, etc., tendem a quebrar as máscaras do ego. Por um tempo ele busca por novos modelos, e se os encontra, encarcera o homem dentro de seus controle quase absoluto. Mas se não consegue manter o status, a couraça do ego começa a se esfacelar. Se o movimento for rápido e o raciocínio suplantar o ego, teremos noção do que significa liberdade e livre-arbítrio realmente.

Começamos a rever os modelos propostos pelo ego, modelos estes baseados no medo, e tentamos reescrever aquilo que desejamos como um novo modelo. Por isso o ego, num primeiro momento, se dilui, mas não se apaga. É um novo ego que parece ser novo, mas não é. Pois os verdadeiros conceitos por trás do ego já existem, o ego não passa de uma imagem deteriorada da realidade, de uma conjectura, de uma ilusão criada através do ego.

E como devemos questionar o ego?

Preste atenção ao seu meio, veja as qualidades e o defeitos que o cercam e se pergunte: Se eu o reconheço, sou portador de tal qualidade ou defeito. Infelizmente, poucas pessoas se interessam em revolver o passado, aceitar as falhas e promover o seu extermínio. É muito fácil acabar com a falha, difícil é aceitar que as tem. Somos reis da justificativa e arremessamos aos outros as nossas culpas e incapacidades. Temos medo de perder aquilo que conhecemos tão bem, mesmo que nos limite, para nos lançarmos ao “imprevisível”. Não existe o imprevisível, assim como o destino que nos governa inexoravelmente. Existem metas do espírito que nos anima a percorrer certas experiências.

Antes de julgar elimine as causas de suas indignações e eliminará o medo que atrai o mal. Somos culpados por aquilo que nos acontece, porque o atraímos. Não confiamos em Deus. Quando me disseram isto fiquei indignado, eu pensava acreditar em Deus de muitas maneiras especiais, não poderia negar, então eu deveria realmente acreditar em Deus. Entretanto eu me confrontei com a raiva de ser questionado. 

Sendo assim, eu não acreditava realmente em Deus?! Deste confronto surgiu uma resposta que talvez jamais viesse à tona se não me dispusesse a aceitar o fato de que não acreditava em Deus. Acreditar em Deus não é só uma certeza ou confiança de que as coisas ficarão bem. É saber categoricamente o que é bem. Não existem meios termos, Deus vai me curar é muito diferente de saber que Deus já nos fez saudáveis. O ego tenta impor as dúvidas de um mundo construído pela observação parcial dos homens para se alcançar a iluminação. É desnecessário trilhar por um caminho que já trilhamos. A este estado Buda se refere como iluminação ou nirvana. Quebrado o ciclo passamos a outra realidade.

“É tolice e desnecessário a uma pessoa continuar sofrendo simplesmente porque não alcançou a iluminação, quando esperava alcançá-la. Não há insucesso na iluminação, portanto a falha reside nas pessoas que, durante muito tempo, procuraram a iluminação em suas mentes discriminadoras, não compreendendo que estas não são as verdadeiras mentes, e sim, falsas e corrompidas, causadas pelo acúmulo de avidez e ilusões toldando e ocultando as suas verdadeiras mentes. Se este acúmulo de falsas divagações for eliminado, a iluminação aparecerá. Mas, fato estranho, quando os homens atingirem a iluminação, verificarão que, sem as falsas divagações, não poderá haver iluminação”.

 Mateus Göettees


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