Enfim, o que eu deveria dizer
sobre o ego não parece ser mais necessário.
Mesmo depois de todas as
explicações que tanto são conjecturas ou sugestões ou falsas convicções, fico
com a sensação de que não adianta me expressar. Decerto não me refiro aos
conteúdos expostos pelas religiões ou pela ciência que preenchem exaustivamente
os requisitos quanto à pergunta: O que é ego segundo...? Descobri que o ego se
amolda – quero dizer, a ideia do que pensamos ser o ego –, às nossas
necessidades e não existe um protocolo para o seu uso. Alguns sustentam o fim
do ego, enquanto outros, a sustentabilidade do ego nos processos psicológicos
para se evitar neuroses ou/e psicoses.
E por que há tanta celeuma numa
questão que se torna impassível diante do que expressamos? Se fazemos uso ou
não do ego, já que ele nos proporciona meios hábeis de se alcançar metas? Quais
metas?! As que buscamos e mais necessitamos sem a intervenção do ego...
Nós temos a característica humana
de ver tudo por um único prisma e separar o que nos causaria sofrimento. Mas o
que é descartado é parte de quem somos. Se somos felizes é porque reconhecemos
a infelicidade, e quanto maior for a percepção – talvez seja melhor dizer, a
experiência - de um, maior será a ideia
do oposto. Podemos negar a infelicidade em nossas vidas, mas não o fato de que
ela existe em nós. O mal existe tão somente porque reconhecemos o mal. O mesmo
se processa quanto ao ego, uma parcela de existência contra a sua negação.
Negar o ego é negar a essência do que somos e aceitar o ego é negar a essência
do que somos. Como assim?
O real objetivo é controlar o ego
ao ponto de ele se tornar aquilo que desejamos. Se os nossos desejos forem pela
simplificação do ego, ele parecerá nulo; o ego que conhecemos não passa de
máscaras ou personalidades prontas para contra-atacar. Este ego reage conforme
as suas crenças. E estas crenças foram criadas e perpetuadas sem que fossem
raciocinadas, como o medo, que é uma reação aos imprevisível. Pois passamos a
acreditar que o imprevisível é um dos alicerces do conceito que dirige o ego.
Mas, e se a imprevisibilidade não passasse de uma ideia errônea? Então não
haveria o medo. E sem medo, todas as nossas reações deturpadas não passariam de
conjecturas.
E como se sustenta uma mudança no
conceito de ego? Busca-se a premissa certa, de que Deus é perfeição. Não
pensemos em negar a religião através da ciência e muito menos o contrário. Elas
são partes separadas de uma mesma ideia e que se expandiram com tantas
conjecturas sobrepostas que perderam a identidade. Existem provas do quanto os
dois caminhos estão errados em continuar avançando sem olhar um para o outro. A
medicina tenta criar respostas para as lacunas que a religião preencheria e
vice-versa.
Individualmente elas podem
parecer magnânimas, porém são como ramos. O ego é assim, por um momento ele se
apropria de todos os modelos que precisa para promover o bem-estar do homem,
ele o protege através da ideia de que precisamos dele para sobreviver. O ego
nos comanda porque nos parece lógico que ele seja assim. Então o ego passa a
sofrer falhas quando é exposto a situações que fogem aos modelos. Neste momento
passamos a questionar a sua liderança. Doenças crônicas, incuráveis, fatais,
acidentes, etc., tendem a quebrar as máscaras do ego. Por um tempo ele busca
por novos modelos, e se os encontra, encarcera o homem dentro de seus controle
quase absoluto. Mas se não consegue manter o status, a couraça do ego começa a
se esfacelar. Se o movimento for rápido e o raciocínio suplantar o ego, teremos
noção do que significa liberdade e livre-arbítrio realmente.
Começamos a rever os modelos
propostos pelo ego, modelos estes baseados no medo, e tentamos reescrever
aquilo que desejamos como um novo modelo. Por isso o ego, num primeiro momento,
se dilui, mas não se apaga. É um novo ego que parece ser novo, mas não é. Pois
os verdadeiros conceitos por trás do ego já existem, o ego não passa de uma
imagem deteriorada da realidade, de uma conjectura, de uma ilusão criada
através do ego.
E como devemos questionar o ego?
Preste atenção ao seu meio, veja
as qualidades e o defeitos que o cercam e se pergunte: Se eu o reconheço, sou
portador de tal qualidade ou defeito. Infelizmente, poucas pessoas se
interessam em revolver o passado, aceitar as falhas e promover o seu extermínio.
É muito fácil acabar com a falha, difícil é aceitar que as tem. Somos reis da
justificativa e arremessamos aos outros as nossas culpas e incapacidades. Temos
medo de perder aquilo que conhecemos tão bem, mesmo que nos limite, para nos
lançarmos ao “imprevisível”. Não existe o imprevisível, assim como o destino
que nos governa inexoravelmente. Existem metas do espírito que nos anima a
percorrer certas experiências.
Antes de julgar elimine as causas
de suas indignações e eliminará o medo que atrai o mal. Somos culpados por
aquilo que nos acontece, porque o atraímos. Não confiamos em Deus. Quando me
disseram isto fiquei indignado, eu pensava acreditar em Deus de muitas maneiras
especiais, não poderia negar, então eu deveria realmente acreditar em Deus. Entretanto
eu me confrontei com a raiva de ser questionado.
Sendo assim, eu não acreditava
realmente em Deus?! Deste confronto surgiu uma resposta que talvez jamais
viesse à tona se não me dispusesse a aceitar o fato de que não acreditava em
Deus. Acreditar em Deus não é só uma certeza ou confiança de que as coisas
ficarão bem. É saber categoricamente o que é bem. Não existem meios termos,
Deus vai me curar é muito diferente de saber que Deus já nos fez saudáveis. O
ego tenta impor as dúvidas de um mundo construído pela observação parcial dos
homens para se alcançar a iluminação. É desnecessário trilhar por um caminho
que já trilhamos. A este estado Buda se refere como iluminação ou nirvana.
Quebrado o ciclo passamos a outra realidade.
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